domingo, dezembro 03, 2006

À M.

Querida M.:

Saudações. Hoje tive que me ralhar, há semanas que te tento responder, mas ora estou demasiado contente, e me sinto demasiado viva para escrever, ora fico demasiado triste, e me encontro demasiado morta para suportar o peso da caneta.

Concordo em pleno contigo (bolas, tanto tempo para concordar) a única coisa que se pode dar como certa é que todo o ser humano nasce para morrer.

Saudades das nossas horas de voo, sem óculos ou ares rarefeitos, o sonho enchia-nos os pulmões, era o nosso combustível, para meio de transporte qualquer palavra nos servia ou raio de luz ou nuvem de escuridão, não importava e continua sem dar com que cuidar… O certo é que se voava e com ou sem tempo, com asas ou pedregulhos às costas lá íamos nós…

Quanto a «vida» e «transição», a vida é uma transição com muitas grandes e pequenas transições nela. Nem a água que corre no rio é sempre a mesma, nem o homem que se banha nela todos os dias se mantém igual. Mas que fique registado (hoje, que tomei o pequeno almoço para ter forças para te responder) que te apoio nessa tua rebeldia de mudar constantemente e serei a teu lado uma metamorfosista (abaixo a poeira assente, as águas paradas e o fogo que lavra sempre no mesmo tronco) com a consciência que não, não seremos nada, sejamos nós em nós mesmas é quanto basta para te admirar toda uma vida…

Provavelmente nunca te disse isto, mas mais uma vez ao ler o que me escreves, tive a sensação de que vais triunfar nesta pequena selva que é a vida, e sei que vais, porque és tu. Um dia, não sei quão distante, após umas quantas obras tuas lançadas no âmbito da política, da sociologia ou, da filosofia em alguma delas, vão lançar «As cartas de Mariana» e no meio de uns quantos nomes vai aparecer a xx do mês tal do ano y aquilo que me escrevias e talvez uma possível resposta minha, em que apenas vou ter direito a uma nota de rodapé, daquelas notas explicativas super engraçadas: Uma conhecida colega de escola de Mariana Figueiredo ponto (morreu ali a explicação) Tudo isto para te dizer o quanto gosto de te ler e das confidências rebuscadas que fazemos uma à outra.

É verdade (porque não é mentira) ontem fui à praia, cheirar o mar violento, espreitar o céu escuro (com a lua lá no alto, as nuvens) a areia molhada, lembrei-me de ti e do quanto gostas do mar…

Cá te aguardo pelos lados do costume com as lérias habituais…

Cumprimentos…

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Porque voar é algo que só contigo consigo fazer . Por sermos diferentes (tão diferentes) encaixamos como uma peça de um puzzle.

Porque fiquei sem palavras . E mais importante ainda: não sei se sou isso tudo que tu dizes e tenho medo de falhar nesta vida :x

beijinho enorme * =)

10:14 da tarde  

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